Conta uma história que certa vez, empolgados nas defesas das suas ideias, discutia um grupo de amigos, quando um deles disse:
- Creio no Cristianismo redivivo, aquele pregado por Cristo, conforme ensinam os espiritualistas.
- Não digas asneira!
- Retrucou outro com um turbante na cabeça.
- Alá é quem comanda. O resto é imaginação humana.
- Deliras! - Gritou outro. As maiores verdades estão no Alcorão. Infelizmente, elas não estão acessíveis a todos os mortais, mas somente aos escolhidos. - Escolhidos! Quem és tu para falar em escolhidos - berrou um senhor de terno e gravata, convencido de suas palavras.
- Estes serão tão poucos que não estarás entre eles, conforme revelou Jeová às suas testemunhas.
- Ora, ora! Disse um padre levantando as mãos para o alto.
- Pai perdoe-lhes, pois eles não sabem o que dizem. A verdade, na realidade, está contida nos sacramentos e nos dogmas criados pela igreja.
- Mas quantas besteiras juntas meus ouvidos são obrigados a ouvir - gritou um que estava à frente. Moisés, sim, foi o maior. De tão grande que foi dele a honra de legar aos povos da Terra as leis maiores.
- Mas não é, em absoluto, maior que Maomé. - Levantou-se um logo atrás.
- Este sim, é grande, pois não é por acaso que possui, até hoje, o maior número de adeptos no mundo inteiro. Tão grande era a discussão que os "sábios" perdiam-se em meio à defesa de suas teses naquela imensa algazarra. Ninguém entendia ninguém.
- Meus filhos - de repente, uma voz diferente de qualquer som que todos até então tinham ouvido, se fez ouvir entre eles. Estupefatos se entreolharam e mais surpresos ficaram quando descobriram que ela não provinha de nenhum deles. Tão assustados quanto perplexos, todos se calaram ante aquela Voz que se impunha num misto de mansidão e autoridade entre todas as outras. E a Voz continuou:
- Vejam o que vocês mesmos criaram ao longo dos tempos. Muita confusão, cisões, lutas, guerras, torturas e mortes. Pois, saibam todos que, para o Pai, essas facções criadas por vocês não significam absolutamente nada, pois o que vale, verdadeiramente, é o amor ao próximo sem pretensão, é a ajuda sem esperar pelo retorno, é a caridade nas suas mais diversas formas de praticá-la. E saibam mais, ainda, que mais próximo do Pai estará aquele que, mesmo dizendo-se incrédulo Nele, fizer o bem e não aquele que apenas pregar esse mesmo bem ao som das palavras que preenchem os ouvidos, mas não acalentam os corações .
- Mas Voz... - levantou-se um em meio ao grupo:
- Como posso estar errado se ao longo dos séculos ergui milhares de templos suntuosos em homenagem ao Pai.
- É verdade! - completou a Voz
- Mas a que custo? O Pai não necessita de suntuosidade tão ao gosto da mediocridade espiritual dos humanos.
- Essas palavras calaram profundamente naqueles que se intitulavam representantes do Pai na Terra.
- Mas, Voz - arguiu outro levantando-se em tom respeitoso:
- Tenho pressa, muita pressa, para alcançar a salvação pregada por todos os líderes religiosos da Terra. Por isso eu, muito humildemente vos pergunto, como vou saber qual o caminho com a menor distância para chegar até ao Pai?
- Basta lembrar-te - disse a Voz - que a menor distância entre dois pontos é uma reta e a ela podes chamar de Caridade, a verdadeira essência do amor, explicada e vivenciada pelo Mestre Jesus quando aqui esteve, mas não muito bem entendida e até hoje não muito bem assimilada pelo homens.
- Mas, nem sempre um caminho é feito somente de retas. Existem, também, as curvas. - insistiu um outro.
- As curvas? - respondeu a Voz. - A elas podes chamá-las de religião.